PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA
PROFESSORES: João Camillo Penna e Eduardo Viveiros de Castro PERÍODO: 2023.1 NÍVEL: M/D ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária/Literatura Comparada HORÁRIO/DINÂMICA DO CURSO: quartas-feiras, 14h00-17h00, presencial TÍTULO DO CURSO: Fora do lugar: reocupação cosmopolítica do espaço Ementa: O curso discute o colonialismo crônico (no duplo sentido do adjetivo) da cultura moderna. O dogma central dessa forma de colonialismo pode ser resumido na proposição “o tempo é superior ao espaço”, enunciada pelo Papa Francisco na exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013) como um dos princípios que fundamentam “o bem comum e a paz na sociedade”. Ele ecoa uma célebre frase de Hegel: “A verdade do espaço é o tempo”. Essa tese cristã remonta ao menos à “dicotomia agostiniana entre tempo e espaço.… com a desvalorização do espaço” (H. Lefebvre). Entre outros argumentos, o curso procura explorar a sinonímia, em muitas línguas românicas, entre terra e Terra, sugerindo que uma teoria antropológica da terra (local, lugar, país, região, zona) é a condição atual de “politicidade” de qualquer discurso sobre a Terra (planeta, mundo, globo, Gaia). O foco do curso, assim, é a noção de espacialidade enquanto dimensão semiótico-material complexa, que a vulgata filosófica tem frequentemente relegado a um segundo plano em relação à temporalidade, especialmente quando esta última é tematizada sob o modo da futuridade. O contraste entre os modos indígenas de valorização da espacialidade e a “cronofilia” moderna será destacado. O problema que se procura formular é o da incapacidade da “escatologia ocidental” (J. Taubes) de dar conta do advento do Antropoceno, condição geohistórica de que essa escatologia é, em larga medida, a condição transcendental. Em oposição aos sonhos astrocolonialistas de terraformação de outros planetas, sonhos que caminham lado a lado com os projetos de geoengenharia — a ideia absurda de uma terraformação da Terra —, o curso propõe uma “reforma agrária” da metafísica ocidental: uma retomada da Terra, parcela por parcela, lugar por lugar, zona por zona. O que se propõe aqui, em suma, é pensar as possibilidades de recomposição dos modos materiais e espirituais de espacialização da existência, neste momento em que a estrada do Progresso se aproxima do “muro energético do Capital” (S. Aumercier) e as condições de habitabilidade do planeta, para a espécie humana, se deterioram de modo crescentemente acelerado. O curso tem um caráter exploratório e experimental, inclusive no que concerne aos métodos de exposição e de avaliação. Sempre que possível, usaremos as versões dos textos disponíveis em português. Os comentários estão fechados.
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Setembro 2024
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